Direto de Roma, Padre Arivaldo Aragão relata experiência vivida durante a abertura da Porta Santa: “Um presente de Deus”


Aos 51 anos de idade, o Padre Arivaldo Aragão, da Arquidiocese de Feira de Santana, vive um momento de grande graça em sua vida sacerdotal. Em Roma pela terceira vez, ele conclui o seu Doutorado em Sagrada Liturgia, colaborando com a Oficina de Celebrações Litúrgicas do Vaticano.

Em entrevista ao site Religión Digital, o sacerdote relatou as emoções vividas em Roma durante o rito de abertura da Porta Santa do Jubileu da Esperança 2025. Confira o conteúdo, a seguir, na íntegra. 

Padre Arivaldo, qual é o seu serviço à Igreja atualmente?

Estou aqui em Roma mais uma vez, a terceira vez. Estudei Teologia de 1996 a 1999. Depois voltei para fazer meu mestrado em Sagrada Liturgia, de 2009 a 2012. Deveria ter feito meu doutorado imediatamente, mas devido à doença do meu orientador de tese, isso não aconteceu. Nesta ocasião, o Arcebispo e o Conselho Arquidiocesano me pediram para retornar porque me precisavam urgentemente na igreja, e aceitei voltar. O Arcebispo, em 2021, me deu um grande presente ao me permitir concluir, fazer meu doutorado, como eu havia planejado, e com isso, fui enviado a Roma em 2022. Estou aqui fazendo doutorado em Sagrada Liturgia no Anselmiano, aos 56 anos de idade, e me dedicando exclusivamente a isso. Moro no colégio Pio Brasileiro.

Em 2023, tive a alegria de ser chamado para fazer parte da Oficina de Celebrações Pontifícias como estudante assistente nas celebrações litúrgicas. Alguns desses assistentes trabalham na Cúria Romana de diversas maneiras ou são estudantes de liturgia. É um grupo pequeno, provavelmente 15 ou 16 cerimoniários, que devido ao Jubileu, cresceu um pouco mais, para 19 ou 20. Todos estamos disponíveis para ajudar nas cerimônias quando somos chamados. Monsenhor Diego Ravelli é atualmente o mestre de celebrações pontifícias; ele é responsável pelas cerimônias do Jubileu, incluindo o rito da Porta Santa.

Tive a alegria de ser convocado para servir na missa de Natal. Pouquíssimas pessoas puderam participar no rito de abertura da Porta Santa. Inicialmente, a cerimônia aconteceria na Praça de São Pedro para que todos pudessem participar. Mas, infelizmente, teve que ser realizada dentro da basílica. Não sabemos o motivo. Possivelmente, devido à idade e às dificuldades de saúde do Santo Padre, e também porque era inverno e fazia muito frio.

Como a basílica se preparou para a abertura da Porta Santa? Houve novidades?

Há toda uma estrutura na preparação das cerimônias, e particularmente do Jubileu. Os preparativos foram muito intensos em diversos grupos, nos esforçando para que este momento, talvez a celebração mais significativa do período jubilar, fosse vivido e celebrado de maneira digna e no espírito do Jubileu.

A Oficina de Celebrações Pontifícias divulgou com antecedência as novidades e preparativos por meio de seu canal no WhatsApp e nas redes sociais, e também o fez o Dicastério para a Comunicação e o Dicastério para a Evangelização.

Na preparação da celebração, a Porta Santa foi adornada. Além disso, a imagem de Nossa Senhora da Esperança foi colocada ao lado do Altar da Confissão e acompanhou todas as celebrações de Natal até a Epifania.

Realmente se tentou criar esse ambiente. Até o ponto de que, durante o rito de abertura na Basílica de São Pedro, não é muito apropriado ler comentários explicativos, mas assim foi feito para que as pessoas pudessem acompanhar e viver este momento.

Com quais emoções você viveu o cerimonial daquele dia?

Os sentimentos e a emoção são indescritíveis. O fato de poder vivê-lo, de poder estar ali, de poder experimentar essa graça e, ainda mais, o fato de poder participar diretamente na celebração; não há nada neste mundo que realmente possa recompensar um presente de Deus e da providência de poder viver este momento e estar ali em nome de tantas pessoas. Pessoas que fizeram parte da minha vida, da minha igreja particular em Feira de Santana, que fizeram parte da minha história. Estar presente ali em representação de cada homem ou mulher de fé que deseja passar pela Porta Santa. Então, a emoção é indescritível.”

Quais eram as expectativas antes da celebração?

As expectativas eram muito altas. A Oficina de Celebrações e os dois dicastérios queriam garantir que tudo pudesse ser vivido da melhor maneira possível; sabe? Eles são muito bons, são primorosos nisso, e fizeram todo o possível para que fosse uma verdadeira expressão de fé. A experiência de atravessar a porta que é Cristo.

No jubileu de 1975, pedaços do muro quase atingiram o Papa Paulo VI. Isso aconteceu desta vez, algo fora do normal? Alguma curiosidade para destacar na abertura do Jubileu da Esperança?

Há curiosidade, por causa do que aconteceu com São Paulo VI em 1975; isso gerou todo tipo de especulação. Nesta ocasião, o fato de o Papa Francisco estar limitado a usar cadeira de rodas, não estando em seu melhor estado de saúde devido a um resfriado, e o fato de ter sido à noite, marcaram a celebração. Ao não poder se levantar, claro, podemos ver a limitação, certo? E tenho certeza de que é uma questão de saúde, mas também é uma voz, um exemplo e um testemunho para tantas pessoas que estão limitadas por algo ligado à falta de saúde, ligadas às limitações da vida, como todo ser humano.

Nessa circunstância, Deus nos olha e nos ama. Nos ama plenamente. Apesar das limitações da vida, todos somos filhos de Deus, e passar pela Porta Santa, viver esse momento, é algo para o qual todos somos chamados a fazer e viver.

Acho que essa limitação de saúde é o que marca. Mesmo porque, como disse antes, o desejo certamente está lá, não é? Do Papa Francisco, da Igreja, de que muitos pudessem participar e viver. No entanto, as limitações, o fato de ser inverno, o frio estava muito forte, tornaram isso impossível. A impossibilidade de todos viverem aquele momento na Basílica de São Pedro só foi superada virtualmente, graças à televisão e à internet.


Nas redes sociais, notícias falsas falaram sobre o rito de abertura da Porta Santa como se fosse um portal misterioso e sobre vozes estranhas que podiam ser ouvidas do interior da Basílica de São Pedro. O que você gostaria de comentar a respeito para nossos leitores?

Isso me faz rir. O fato de que as pessoas dissessem que se ouviam risos, choros como de crianças, etc., é óbvio. A basílica estava cheia de gente: os fiéis, os sacerdotes, o coro, todos estavam dentro da basílica. Além disso, havia pessoas do lado de fora, na praça; e no átrio, onde o Papa realizou o rito de abertura da Porta Santa, estavam os cardeais, os bispos que participaram. Havia apenas 24 sacerdotes representando todos os sacerdotes; também estavam as crianças que trouxeram a oferta das flores, representantes de todo o mundo, algumas autoridades políticas, o cabido e os confessores de São Pedro. Estavam os cerimoniários e alguns sacerdotes mais ajudando no cerimonial. Estávamos lá; então dentro da basílica havia muita gente, incluindo muitas crianças; não estava vazia… o resto é ficção científica por parte das pessoas que dizem essas coisas. Evidentemente, havia gente dentro da basílica, mas depois as pessoas não entendem, dizem tantas coisas falsas, dizem que ‘um portal’… que sei lá, como se essas coisas fossem desconhecidas por todo mundo.

Que recomendações você daria a peregrinos e turistas com motivo do Jubileu? Lugares a visitar, programas especiais, notícias, entradas para as cerimônias, indulgências, etc.

O Dicastério para a Evangelização colocou à disposição de todos uma página web e um aplicativo sobre o Jubileu 2025, onde está toda a informação necessária. Todos os conselhos e diretrizes, tanto para os peregrinos quanto para os voluntários, tanto para quem está longe quanto para quem está perto, me parece que estão disponíveis nos principais idiomas, e sempre através do site do Vaticano e da página do Dicastério, onde se pode encontrar a informação. Acho que tudo o que você precisa está centralizado ali.

Claro, como sabemos, há as quatro basílicas principais onde se encontram as portas santas de Roma: São Pedro no Vaticano, São João de Latrão, que é a catedral de Roma, Santa Maria, a basílica maior dedicada à Virgem Maria, e São Paulo Extramuros, onde está a tumba de São Paulo. O Papa quis unir essas quatro basílicas com um gesto muito forte e com um simbolismo realmente enorme, baseado no significado do Jubileu da Esperança de libertação, ao abrir uma porta santa na prisão de Rebibbia; portanto, há cinco Portas Santas às quais todos podem vir, viver, participar, celebrar e fazer todo esse percurso.

Há temores ou preocupações no Vaticano sobre o Jubileu de 2025?

Claro, espera-se uma grande quantidade de pessoas que virão a Roma e participarão das atividades do Jubileu; por isso, a preocupação com a segurança é grande nesse tempo que estamos vivendo. Para garantir a segurança de todos, o governo da Itália, a cidade de Roma e o Vaticano, em todas as suas estruturas, ajudam não só a colaborar com os peregrinos, mas também a proporcionar a segurança necessária. Vê-se um maior número de policiais para favorecer a segurança. É tudo o que se precisa, incluindo o rigor de todo o processo. Por exemplo, quem vem a São Pedro passa por um processo rigoroso de controle antes de chegar à praça. Devido a situações que todos conhecemos, mas com a graça de Deus, será um tempo de bênção, misericórdia e esperança em Cristo Jesus para todos nós.

O que significa para você o Jubileu da Esperança?

O Jubileu é uma graça única, especial, ainda mais em Roma, poder estar aqui, é a providência de Deus, que me deu um dos maiores presentes da minha vida. Ter essa experiência e pedir ao Senhor que renove nossa esperança diante deste mundo tão desgarrado, marcado por tantas coisas, doenças, falta de sentido da vida e ausência de Deus.

Fui ordenado sacerdote no Brasil no dia 8 de janeiro durante o Jubileu do ano 2000, e agora celebrar aqui meu 25º aniversário como sacerdote é uma graça inestimável. Então, para mim, é um presente de Deus. É um verdadeiro ano de graça e de misericórdia e poder oferecer este pobre homem de Cristo que sou. Ser, viver e oferecer para que o Senhor nos olhe com misericórdia, nos conceda sua graça, nos conceda sua bênção. A Esperança que tanto precisamos é algo que não só não tem preço, mas que preenche meu coração e me faz dizer sim mais uma vez, para oferecer minha vida, meus dias, para que, através do ministério ordenado, mas sobretudo através da minha vida, eu possa ser um sinal de Esperança para mim e para o mundo. Presença de Deus entre nós. Que Deus nos abençoe. Neste ano do Jubileu 2025, que sejamos renovados na Esperança que vem de Deus e sejamos um sinal de Esperança para tantos que dela precisa

Pastoral de Comunicação – PASCOM Arquidiocese de Feira de Santana

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